Detenho-me na orla do medo. E fico nela, estática e inútil.
Fico nela como quem fica em silêncio por ser tanto o que se tem para dizer. Como se as palavras se entrelaçassem até não haver pensamento que restasse, só um gemido inaudível que se pareça, ao de leve, com a aflição inteira do que outrora havia para ser dito. Como se corressem todas, e todas ao mesmo tempo, sôfregas do mundo e cansadas de mim.
Detenho-me na orla do medo e balanço-me , para trás e para diante, num assobio forçado que conte a história tão falsa do eu querer mesmo ali estar. De ser ali, e não antes, que o sossego inteiro mora. De ser ali, não depois.
Detenho-me na orla do medo tão quieta como se esperasse que ele não desse por mim, camuflada por entre todos os sopros trágicos das comédias por acontecer. Escondida e muda dentro daquele presságio abstracto, cujo peso é tamanho que não compreendo como me habita a alma sem a rasgar e vir cair-me aos pés, inofensivo e fútil.
Qual estátua pequenina cuja sombra fosse larga ao entardecer.